8 de maio de 2012

Diálogos Sustentáveis: esquentam os debate para a Rio+20



RIO — Às vésperas da Rio+20, terceira grande Conferência convocada pela ONU para discutir como o planeta, ou melhor, os países membros das Nações Unidas, vão lidar com questões cruciais para que se possa ter uma vida melhor, mais justa e menos desigual, vários fóruns de discussão se constituem para ajudar no megadebate. Convocados pelo Fundo Brasileiro pela Biodiversidade (Funbio), os economistas Sergio Besserman, Pedro Motta Veiga e Hugo Penteado, moderados pelo jornalista Silo Bocanera, passaram a manhã do dia 26 de abril às voltas com o tema no programa Diálogos Sustentáveis.
A tarefa era tentar encontrar uma fórmula para criar estruturas econômicas que funcionem para enfrentar mudança de clima e pobreza. Para instigar as discussões, Boccanera lembrou uma fala do também economista Nicholas Stern, criador do famoso Relatório Stern (em 2006), para quem "O mundo vai precisar de uma nova revolução industrial, e esta virá com sangue. Diferentemente daquela que aconteceu na Inglaterra do século XVIII, esta precisará de governo".
Pedro Motta Veiga, que é consultor permanente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), concorda com Stern. Segundo ele, a “convergência entre economia, sociedade e meio ambiente não se dará sem conflitos”:
— É um processo onde entram luta política e conflito de interesses econômicos. Não existe a história de primeiro ter que cuidar da vida das pessoas e depois cuidar do meio ambiente. Se a nossa classe média está crescendo num momento em que há recessão ambiental, sinto muito. Ela vai ter que levar isso em conta. Não adianta invocar uma suposta igualdade de direitos — disse ele.
Sergio Besserman, que preside a Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e de Governança Metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, contextualizou o momento em que esta classe média passou a participar mais, como consumidora voraz, do modelo econômico. Nunca antes na história da humanidade, lembrou Besserman, vivemos o que vivemos hoje, quando precisamos escolher entre comprar um produto mais barato e impactar o meio ambiente ou pagar mais para reduzir o impacto:
— Já estamos muito melhores do que nos anos 80, quando consumíamos muito mais vorazmente. Na verdade, o que acontece hoje é que já temos a consciência dos problemas, mas precisamos ampliar nossa consciência porque os desafios são inéditos — disse.
Na mesma linha de consumo versus consciência ecológica versus a entrada de novas pessoas no mercado, Hugo Penteado, atualmente no Grupo Santander, lembrou que o relatório Stiglitz, que pretendeu determinar uma nova medição de riqueza para além do PIB não deu certo porque não levou em conta a pegada ecológica de cada um. É que, de acordo com projeções da Agência Internacional de Energia (AIE), mesmo com as políticas para promover fontes limpas, o crescimento da demanda global de energia até 2050 aumentará duas vezes e meia as emissões de carbono em relação aos níveis atuais:
— O difícil é começar a colocar as pessoas e o planeta em perspectiva e colocar a economia no lugar dela. O desafio é grande, é preciso ter uma mudança forte de valores, abandonar o consumerismo. Sabemos que o modelo em que vivemos não dá mais e que ele não está mudando. Mas sabemos que ele vai mudar. A pergunta, por enquanto sem resposta, é: como vai mudar? E quando vai mudar? Estou convencido de que o comportamento de cada cidadão é que vai ajudar nisso — disse, acrescentando que outro grande desafio da humanidade será encontrar novas formas de redução de matéria e energia.
Até aí, tudo bem, há quase um consenso entre especialistas de que os cidadãos precisam mudar suas rotinas quanto ao uso de recursos como água, combustíveis, alimento, para evitar o desperdício. Mas, e as indústrias? Pedro Motta Veiga aponta o que pode ser um dos maiores paradoxos no discurso da sustentabilidade: os incentivos que a indústria automobilística tem recebido do governo brasileiro sem ter que dar quase nenhuma contrapartida no que diz respeito a dispositivos que diminuam as emissões de gases do efeito estufa nos carros:
— É quase uma carta branca para continuar investindo numa produção que praticamente ignora a redução de emissões. Isso é uma questão séria porque vamos passar de 100 milhões de carros em 2030 — disse ele.
Motta Veiga disse ainda que este cenário tira a “pose do Brasil”, que esteve muito bem na foto durante a COP-15 (Conferência das Partes convocada pela ONU que foi realizada em Copenhague em 2009) por ter anunciado uma meta de redução de emissões (de 36,1% a 38,9% até 2020). Se não houver uma mudança governamental na política para incentivos à indústria automobilística, segundo o economista, “a partir de 2020 as emissões no Brasil vão voltar a crescer por causa do aumento da população”.
— Um setor novo que está despontando é o pré-sal. Claro, nenhum país ignoraria essa benesse da natureza. Mas será mais um passo para que a indústria seja articulada em cima do petróleo, da indústria automobilística, num paradigma antigo de produção.
Para Besserman, a solução pode vir no momento em que se tomar a decisão de “impor um preço gigantesco ao mercado de emissão de carbono”, até porque não há expectativa de que as energias renováveis vão superar o combustível fóssil em eficiência:
— Cada vez que aumentar a eficiência energética, aumenta-se o consumo. Não existe desenvolvimento que não encare o impacto ambiental — disse ele.
Precificar as emissões pode ser uma bandeira política da Rio+20, na opinião de Besserman. A Conferência, no entanto, embora seja considerada um importante momento para trazer à tona essas discussões, não deve trazer consenso com relação a barreiras ao comércio, segundo Pedro Motta Veiga:
— É um desafio que só tem sentido se os grandes parceiros aderirem — disse.
O próximo Diálogos Sustentáveis vai acontecer dia 25 de maio também no Solar da Imperatriz, no Horto.

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