9 de maio de 2012

Pandemia Homicida

Edgar Lisboa, Jornal do Comercio, RS, 9 de maio,2012

Entre 1980 e 2010, o número de homicídios mais que duplicou no Brasil. Pulou de 13,9 mil em 1980 para 49,9 mil em 2010, um aumento de 259%, ou de 4,4% ao ano. Mas o aumento real, se contar com o crescimento da população de 119 milhões para 190,7 milhões, é de 124% no período, com uma média anual de 2,7% ao ano. Isso quer dizer muita coisa. Vemos que a média anual de mortes por homicídio no País supera, e em casos de forma avassaladora, o número de vítimas em muitos e conhecidos enfrentamentos armados no mundo , diz o Mapa da Violência, elaborado pelo Instituto Sangari. Isso quer dizer que, num período de 30 anos, foram assassinadas 36,3 mil pessoas anualmente. Mais que na Guerra da Chechênia (25 mil). A epidemia é um surto eventual, a pandemia é um problema estrutural e mais difícil de cuidar. A violência entre nós está incorporada , disse o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do estudo.
Meandros semelhantes
O estudo também não reserva boas notícias aos gaúchos. Correndo ao longo das três décadas de forma paralela e pouco abaixo das taxas nacionais, o Estado configurou meandros bem semelhantes aos do País, mas sempre com taxas menores , diz. No mesmo período, as taxas de homicídio no Rio Grande do Sul pularam de 8,1 por 100 mil para 19,3 por 100 mil, um aumento de 137,1%, ou de 2,9% ao ano. Na Região Metropolitana de Porto Alegre é ainda pior. O aumento foi de 353,8%, ou 5,2% ao ano. A capital fechou 2010 com 36,8 homicídios por 100 mil habitantes, bem mais que a taxa de 26,2 por 100 mil registrada no Brasil inteiro.
Política de improviso
O deputado gaúcho Enio Bacci do PDT, ex-secretário de Segurança do Rio Grande do Sul, culpa o tráfico de drogas pelo aumento das taxas de homicídio no Estado. Segundo ele, 80% dos assassinatos têm relação com o comércio de drogas ilícitas, que aumentou bastante nos últimos 20 anos. Para piorar, o Rio Grande do Sul está no meio da rota da droga e as políticas de combate a esse crime são frágeis. O que temos são políticas de improviso. Um fato que piora o quadro é a falta de continuidade das políticas de segurança pública nos sucessivos governos , critica. Os 20% restantes, explica o parlamentar, são causados por brigas de rua, rivalidades de vizinhos etc.

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