9 de maio de 2012

Secretário contesta pesquisa sobre violência

Diario do Para-Online, Maio 9, 2012


A eclosão da violência na Região Metropolitana de Belém nos últimos 10 anos provocou o crescimento de 324,4% na taxa de homicídios, fazendo com que a média do Estado ultrapassasse, já em 2005, a taxa nacional. Os dados fazem parte do estudo "Mapa da Violência no Brasil 2012", divulgado terça-feira (08). O levantamento, coordenado pelo sociólogo Júlio Jacobo, em parceria com a Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso) e com o Instituto Sangari, mostra que, em 2000, com uma taxa de 13 homicídios em 100 mil habitantes, o Estado ocupava a 21ª posição nacional. Em 2010, sua taxa de 45,9 homicídios colocou o Pará na 3ª posição, tal o ritmo da escalada de violência no Estado.
O secretário de Estado de Segurança Pública, Luiz Fernandes Rocha, disse, ontem à noite, que a pesquisa divulgada pelo Instituto Sangari "é material requentado". Segundo ele, a pesquisa se refere ao ano de 2010, com dados sobre mortes do Sistema Único de Saúde (SUS). "Esse material já foi divulgado várias vezes, desde 2011. São dados de dois anos atrás. O ano nem terminou, não está nem na metade, e eles já estão divulgado o mapa da violência no Brasil de 2012", questionou o secretário que não deu muita importância para o estudo.
Outras cidades paraenses também já teriam aparecido na lista das mais violentas do Brasil, conforme a pesquisa do Instituto Sangari. O assunto também teria sido repercutido por meio de uma ONG mexicana, mas é somente a repercussão do que já foi divulgado, segundo o secretário.
EXPANSÃO
De acordo com o estudo, o motor da expansão foi a Região Metropolitana de Belém, que nesses 11 anos mais que setuplicou seus índices. Mas, de acordo com o Mapa, o interior não ficou muito atrás, também deu sua dose de contribuição, crescendo 228,2%. Entre as capitais brasileiras, Belém está na oitava posição em número de homicídios por habitante. Marabá continua sendo a terceira cidade mais violenta do Brasil e primeira no Estado. Ananindeua é a sexta no Brasil. Ananindeua e Marabá apresentaram em 2010 taxas que superam os 100 homicídios para cada 100 mil habitantes. Santarém, em direção contrária, apresentou em 2010 uma das menores taxas do país para municípios de grande porte: 3,1 homicídios para cada 100 mil habitantes. Sessenta municípios paraenses estão entre os 1.000 municípios mais violentos do país, sendo que 22 deles estão entre os 100 primeiros no país.
No início da década passada, a taxa de homicídios inicial do Estado era de 8,9 por cada grupo de 100 mil habitantes, um pouco inferior à taxa nacional. Os índices da região metropolitana, que conglomera os municípios de Ananindeua, Belém, Benevides, Marituba e Santa Bárbara do Pará, eram superiores aos do interior. Já no final da década, a taxa do estado teve um leve crescimento (1% ao ano) propiciado por um aumento de 2,4% ao ano do interior, enquanto a RM cai 0,8% ao ano. Com isso, as taxas do interior praticamente se equiparam com os da RM.
A taxa de homicídios no Pará era de 45.9 mil casos por 100 mil habitantes em 2010. O primeiro lugar geral no país é de Alagoas, que teve, somente na capital e RM, crescimento de 39,3 para 100,7. Pará, Alagoas e Espírito Santo seguem em sentido contrário ao que vem sendo registrado no país, onde o índice de homicídios caiu no ano passado, passando de 27 casos por 100 mil habitantes em 2009 para 26,2 em 2010. O Mapa da Violência 2012 foi elaborado com base em informações do Ministério da Justiça e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
O sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, autor do Mapa da Violência e ex-diretor de Pesquisa do InstitutoSangari, acredita que a situação da violência no Brasil é a de pandemia. "A epidemia é um surto eventual, a pandemia é um problema estrutural e mais difícil de cuidar. A violência entre nós está incorporada", destacou o sociólogo, que já foi coordenador de Pesquisa e Avaliação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil.
Há quase uma década e meia fazendo mapas da violência no Brasil, o sociólogo avalia que a identificação do brasileiro como "homem cordial" não se sustenta pelos dados estatísticos. "A sociedade brasileira é tão violenta quanto qualquer outra latino-americana", diz.
"Há, no Brasil e em outros países vizinhos, uma cultura de desvalorização da vida do próximo. Em países de outros continentes, os conflitos são resolvidos com negociação", compara o sociólogo, que é argentino. (Diário do Pará)

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